sexta-feira, 3 de setembro de 2010

No mar, o tempo passa rápido.
Não sei bem ao certo o porque, e nem se isso faz sentido pra você, mas pra mim, é a mais pura realidade.
Não me canso de olhar as ondas, batendo contra o casco do barco o dia todo, seu humor variando dia após dia, as vezes ditado pelo sol, ás vezes pela lua, e muitas vezes, ditando o meu próprio humor. Quando estou triste, as ondas se erguem esbeltas, tentando chamar minha atenção, e batem delicadamente no barco, como que fazendo cócegas. E, se não consegue me fazer rir, as ondas ficam severas e balaçam o barco, até que eu me dê por vencido, ou até que elas se cansem.

Por vezes percebo as águas calmas demais e tento atiçá-las, atirando pedregulhos, normalmente funciona, mas ás vezes as ondas acabam ficando violentas e muito agitadas, e então nem uma capa de chuva vai impedir que eu acabe todo molhado.
Mas depois de um tempo você se acostuma e não se importa mais em se molhar, mesmo quando o mar está triste, jogando as ondas contra o barco e fazendo chover respingos por todo o convés como se fossem lágrimas salgadas e frias; já perdi as contas de quantas vezes me debruçei com a água escorrendo pela face, e chorei junto com ele.

Mas um dia, já há bastante tempo, percebi que o que mais me encanta não é beleza das águas - transparentes ao meio dia, misteriosas refletindo o céu noturno estrelado - mas sim a direção em que elas me levam, os caminhos que me fazem parcorrer, as mais inesquecíveis experiências que eu nunca teria vivido se tivesse permanecido em terra firme, coisas que eu nunca acreditei possíveis ou que nunca imaginei prováveis.

Há quem diga que no mar tudo parece igual, uma eternidade estagnada.
Estão errados. Pelo menos pra mim, estão errados.
Eles falham na concepção dessa idéia desde o princípio, pois a superfície do mar é mais mutável do que qualquer terra firme e muito mais excitante, mas é claro, muito mais desafiadora também.
E aí é que está a graça.
Se o mar fosse sempre calmo e sereno, daí sim seria entediante. Se as ondas fossem sempre iguais, eu não teria por elas me apaixonado.

Mas algumas vezes eu esqueço disso, por alguns instantes.
Sonho que estou em terra firme novamente, acordo confuso e devastado, me sinto perdido ao olhar para o horizonte sem fim e não saber onde irei pisar em seguida, me sinto inseguro, sozinho, tenho medo que o tempo passe, sinto pavor da morte e a insignificância da minha presença nesse mundo.
Mas então as ondas me acordam e me fazem lembrar que é tudo tolice, que essas coisas não importam, é tudo parte de um pesadelo; essas coisas não existem.
Então eu me acalmo, e as ondas também.

E nós continuamos pelo mar afora, enfrentando dias de sol, chuva e tempestade, escolhendo juntos o nosso caminho dentre as infinitas possibilidades do horizonte, alumas vezes sem medo, outras com medo, mas sempre juntos, como estivemos desde o dia em que as velas foram içadas e o barco deixou o porto, exatamente um ano atrás.

2 comentários:

  1. amo quando tu escreve esses teus textos riquíssimo na subjetividade.
    e amo você também!
    parabéns, tá lindo! :***

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  2. bota uma internet via satélite nesse barco aí então pra nóis jogar diablo!
    ;D

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