sexta-feira, 24 de setembro de 2010

"Nada dura pra sempre, apenas o céu e a terra" já dizia a música. E, levando em conta uma abordagem mais científica, nem o céu e a terra duram.
Algumas coisas foram feitas pra não durar, e essas coisas são as melhores. Alguém já deve ter dito isso.
Algumas coisas são tão pequenas e indivisíveis que se tornam únicas de uma maneira especial e inesquecível, e é isso - acho que poucas pessoas percebem - que as torna especiais: elas acabam.

Mas no final das contas "acabar" é só uma palavra, talvez não exista uma palavra que possa definir o que acontece com as coisas. Não com todas as coisas, mas com essas que passam, de certa forma, a fazer parte de nós, não só como lembrança, mas como parte mesmo, por menor que seja, uma partícula indispensável do ser.

Então um dia você acorda e sabe que finalmente vai acontecer, embora seja difícil ou quase impossível conceber a idéia. É como uma criança pensar em como vai ser a sua vida em vinte anos, é muito difícil de se imaginar adulto quando se é criança, parece errado, parece que as coisas deveriam continuar assim pra sempre: ser pequeno, ir pra escola e se divertir com bolhas de sabão.
Mas se isso acontecesse ela deixaria de ser especial, não seria mais única.
O interessante sobre as coisas únicas é que normalmente você não sabe que elas são únicas, pelo menos não até um bom tempo depois d'elas terem começado ou terminado.

Você se vê parado no meio da multidão, ainda alheio a singularidade do momento, do sonho virando realidade; os únicos amigos na multidão sempre por perto, a única ancora com a realidade.
Então todas as luzes se apagam, o coração acelera, a multidão se exalta, é agora!
O suspense se prolonga por alguns instantes, até que finalmente rufam os tampores e as luzes se acendem: lá estão eles, tão perto.
Não da pra acreditar.
Por alguns momentos tudo fica mudo, exceto pela multidão e pelos tambores, mas então finalmente é possível ouvir aquela voz tão familiar e agora você tem certeza.
A multidão explode, pulando e cantando com a música, agora nada mais pode dar errado, agora é pra valer.

Você canta junto, e quando se da conta, tudo faz sentido.
O rosto pega fogo, o estômago congela.
Cada palavra faz sentido, e você canta com o coração, porque percebe que essa é a sua última oportunidade.
O melhor ainda está por vir.
Você se da conta da distância que sempre existiu e que agora é ínfima; nunca mais vai ser assim.
Agora você está sozinho na multidão, um só com a música, não existe mais nada.
Não olhe agora, o melhor ainda está por vir.
A visão embaça, a voz falha.
O refrão se repete infinitamente.
Pegue a minha mão, o melhor ainda está por vir.
Um furacão de sentimentos e emoções passa pela sua cabeça, você olha pro futuro e pensa nas pessoas que ama. A felicidade escorre pelo rosto.
E o melhor ainda está por vir.
Um momento de silêncio, a música acaba.

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

No mar, o tempo passa rápido.
Não sei bem ao certo o porque, e nem se isso faz sentido pra você, mas pra mim, é a mais pura realidade.
Não me canso de olhar as ondas, batendo contra o casco do barco o dia todo, seu humor variando dia após dia, as vezes ditado pelo sol, ás vezes pela lua, e muitas vezes, ditando o meu próprio humor. Quando estou triste, as ondas se erguem esbeltas, tentando chamar minha atenção, e batem delicadamente no barco, como que fazendo cócegas. E, se não consegue me fazer rir, as ondas ficam severas e balaçam o barco, até que eu me dê por vencido, ou até que elas se cansem.

Por vezes percebo as águas calmas demais e tento atiçá-las, atirando pedregulhos, normalmente funciona, mas ás vezes as ondas acabam ficando violentas e muito agitadas, e então nem uma capa de chuva vai impedir que eu acabe todo molhado.
Mas depois de um tempo você se acostuma e não se importa mais em se molhar, mesmo quando o mar está triste, jogando as ondas contra o barco e fazendo chover respingos por todo o convés como se fossem lágrimas salgadas e frias; já perdi as contas de quantas vezes me debruçei com a água escorrendo pela face, e chorei junto com ele.

Mas um dia, já há bastante tempo, percebi que o que mais me encanta não é beleza das águas - transparentes ao meio dia, misteriosas refletindo o céu noturno estrelado - mas sim a direção em que elas me levam, os caminhos que me fazem parcorrer, as mais inesquecíveis experiências que eu nunca teria vivido se tivesse permanecido em terra firme, coisas que eu nunca acreditei possíveis ou que nunca imaginei prováveis.

Há quem diga que no mar tudo parece igual, uma eternidade estagnada.
Estão errados. Pelo menos pra mim, estão errados.
Eles falham na concepção dessa idéia desde o princípio, pois a superfície do mar é mais mutável do que qualquer terra firme e muito mais excitante, mas é claro, muito mais desafiadora também.
E aí é que está a graça.
Se o mar fosse sempre calmo e sereno, daí sim seria entediante. Se as ondas fossem sempre iguais, eu não teria por elas me apaixonado.

Mas algumas vezes eu esqueço disso, por alguns instantes.
Sonho que estou em terra firme novamente, acordo confuso e devastado, me sinto perdido ao olhar para o horizonte sem fim e não saber onde irei pisar em seguida, me sinto inseguro, sozinho, tenho medo que o tempo passe, sinto pavor da morte e a insignificância da minha presença nesse mundo.
Mas então as ondas me acordam e me fazem lembrar que é tudo tolice, que essas coisas não importam, é tudo parte de um pesadelo; essas coisas não existem.
Então eu me acalmo, e as ondas também.

E nós continuamos pelo mar afora, enfrentando dias de sol, chuva e tempestade, escolhendo juntos o nosso caminho dentre as infinitas possibilidades do horizonte, alumas vezes sem medo, outras com medo, mas sempre juntos, como estivemos desde o dia em que as velas foram içadas e o barco deixou o porto, exatamente um ano atrás.