quinta-feira, 19 de novembro de 2009

"Era uma vez o sol, então eu o matei."

Queria escrever algo sobre o sol, e isso foi o melhor que consegui: um texto direto, sucinto e que não deixa margem de erro ao expressar meus sentimentos. Talvez tenha ficado somplório demais, fico com a impressão de que ele carece de uma introdução à altura do astro celeste. Vou tentar novamente:

"Há muito tempo atrás, numa galáxia distante, havia o sol. Então, eu o matei."

Matar o sol... hum, talvez seja pouco pra ele. Sabe quando acontece nos filmes dos caras não matem os inimigos porque a morte é "boa demais"? Seguindo esse raciocínio, o Sol merece algo mais, já que eventualmente ele vai morrer de qualquer jeito. Mas o que? Não é tão fácil assim castigar o Sol. Eu acho legal blasfemar que as coisas "queimem nas chamas do inferno", mas pro Sol isso seria a mesma coisa que falar "pau no seu cu!" pra um viado. Talvez seja melhor atacar na moral:

"Há muito tempo atrás, numa galáxia distante, havia o sol. Então, eu o joguei na parede, chamei-o de lagartixa e urinei naquilo que ele chama de fogo."

Pronto, agora sim. Ou tá com muita cara de violência gratúita?
Acho melhor justificar um pouco esse ódio todo:

"Há muito tempo atrás, numa galáxia distante, havia o sol, e ele era quente, MUITO quente. Então, eu o joguei na parede, chamei-o de lagartixa e urinei naquilo que ele chama de fogo."

Melhor assim, agora só dar uns toques finais. Podia fazer ela no estilo daquelas histórias vitorianas em que tem um resumo do capítulo no começo, algo do tipo:

-Capítulo I-
"Aquele em que o jovem Robson se farta do calor excessivo naquela Ilha de merda e vê apenas duas saídas para o seu problema: ir embora para um lugar frio ou engajar num combate de proporções galácticas com sua estrela arquiinimiga."

Tá, chega, cansei de escrever, não tenho talento mesmo, e já perdi a vontade, assim como perco a vontade de fazer qualquer coisa com esse calor infernal.
Aliás, boas novas, parece que o céu está caindo la fora. O sol se foi, por hora, e tomara que não volte por um bom tempo.

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Efeito Borboleta

Ainda lembro, como se fosse ontem, daquela tarde em que ouvi pela primeira vez palavras a seu respeito. Estávamos no meio do inverno, mas a tarde era quente, como quase todas as tardes nessa ilha. Era uma daquelas sextas-feiras pelas quais tanto ansiávamos, quando tínhamos como amantes apenas a bola, a tabela e a quadra, numa busca contínua pela intimidade que então nos era praticamente desconhecida.

Eu paro, balanço o cabelo da frente dos olhos; Seguro a bola com firmeza, como ensinou Maravich; Miro a tabela por alguns instantes e salto, mandando a bola ao seu encontro.
Sem sucesso.
Caminho em direção a bola e sou alvo de uma rajada de palavras:
"... amigas... conhecer... sair...?".
Encaro o dono das palavras, buscando uma justificativa para as tais.
"... Capinzal... histórias... conhecer."
Chego até a bola.

Me soavam estranhas tais palavras, meio que deslocadas, talvez. Mas não se parecem assim
todas as palavras quando se ouve alguém que nunca proferiu-as fazê-lo? Por dois segundos, talvez menos, ponderei a atual situação e respondi: "Vamos."

Voltei minha atenção para minhas amantes recentes ao passo que palavras como "festa" e "hoje" cruzavam o ar, dividindo o espaço com as bolas errantes, sem saber que se passariam semanas - nas quais essa história permaneceria esquecida - até que eu a visse pela primeira vez;
Sem saber que acabare de presenciar o bater de asas de uma borboleta que viria a desencadear um turbilhão de acontecimentos e sentimentos que me fariam, cinco meses mais tarde, desistir de tentar pegar no sono e escrever - à luz débil e azul do celular - sobre este dia longínquo que poderia muito bem ter sido ontem e que acabou se tornando o prefácio de uma história ainda não terminada e, acima de tudo, sobre ela.

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