segunda-feira, 5 de abril de 2010

Outonos que vem e vão

Durmo ao som do vento frio castigando a janela.
Um par de meias aquece meus pés; um corpo quente aquece o meu.
Viajo por sonhos longos e sem muito valor, dos quais recordo apenas breves instantes.
Acordo incontáveis vezes com a mesma música e finalmente levanto. Coloco a cabeça pra fora da janela e sinto o vento arrepiar meu corpo todo; é automática a vontade de escrever algo. Não sei se é psicológico ou se o frio e o cinza do céu deixam um clima mais propício para tal; e mais triste também, já dizia a música: "a primavera traz a chuva, com o inverno vem a dor"

Escrevo histórias e guardo até que venha o próximo outono, pra só então deixar elas saírem do casulo, e as vezes penso de novo e acho que não deveriam ter saído.
Deixo de escrever histórias pra escrever algarismos, não por opção.
Escrevo hexadecimais, binários, decimais, uso letras pra fazer contas, todas feias; sinto saudade das palavras de verdade e do tempo em que a matemática se limitava a números.
Não gosto desse tipo de texto introspectivo e subjetivo, é pessoal demais, chato demais. Mas eu escrevo mesmo assim, porque preciso escrever e porque me da desgosto ter um blog e não usar;
me da desgosto ter uma guitarra e não tocar;
me da desgosto ter uma parede branca vazia;
me da desgosto, também, usar esse recurso de repetição, que faz o texto parecer descrição de foto de fotolog.

Eu corro e paro ofegante, o ar frio enche os meus pulmões; que saudade dessa sensação.
A noite tomou o lugar do dia e o vento não para, encontra o meu suor e me arrepia de novo.
Com frio, sedento e cansado.

Cansei de deixar de escrever, de prometer pra mim mesmo que ia escrever e de ter medo de terminar as histórias. Não vou mais usar falta de inspiração como desculpa.
De uns tempos pra ca resolvi fazer essas coisas que eu nunca fiz e falar o que eu nunca falei, seja por ter medo de estar errado ou por não querer entrar em desacordo com os outros, e descobri que isso faz bem.
É como aquela velha história do "esse semestre/ano eu vou estudar mais", nunca acreditei que eu fosse fazer isso; e agora, estou fazendo, então o resto é ficha.
Resumindo, decidi honrar a minha palavra para comigo mesmo.

A luz verde ilumina a minha parede e o vento, agora mais brando, balança a minha cortina.
O gosto do chocolate permanece na minha boca e eu escrevo. Pela primeira vez em muito tempo não me importo de fazer bonito. Sempre me importei demais com as coisas, demorei muito pra perceber isso, e mais ainda pra decidir mudar.
A música de fundo é nostálgica, uma dessas que eu ouvia quando tinha 16 anos e que não fazem mais sentido, a não ser pra lembrar do passado. Ironicamente ela se chama "Turn the page", me dei conta agora.

Esseé um dos piores textos que eu já escrevi aqui, mas provavelmente o segundo mais sincero.

4 comentários:

  1. não sei o que tu viu de pior nesse texto. eu adoro essa sinceridade que tu usa. e adoro tudo que o texto propõe. e enquanto leio ele, minha alma fica plena, porque sei que meus pés com meias, meu corpo quente e a música do meu despertador que te inspiram a escrever tão bonito.
    te amo meu lindo.

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  2. esse texto "introspectivo e subjetivo" é o teu MELHOR texto.

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